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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Isso virou tutti-frutti…

sapoti2
Fonte: Balto

Em janeiro de 2004, durante uma das nossas viagens do tipo “caçadores do último templo perdido na selva tropical”, visitamos alguns cidades da Guatemala. Uma delas foi o sítio arqueológico maia de Tikal.

Estávamos num grupo com turistas americanos e holandeses. Durante os passeios, conversando com uma moça americana, ela me perguntou sobre uma árvore amazônica da qual se retirava uma resina para se fazer goma de mascar. Eu, bem esquecida que estava, pensei que ela tivesse feito confusão com a seringueira de onde se retira o látex da borracha.

Daí que no carnaval de 2007, a escola de samba carioca Estácio de Sá reeditou o samba-enredo de 1987, “O ti-ti-ti do Sapoti”, e aí meu bem, tudo fez sentido! Em 2004 nem liguei o “nome a pessoa”. É a árvore do sapoti, o sapotizeiro, que dos talhos feitos em seu tronco escorre o tal látex. Esse método que já era conhecido pelos Astecas e Maias, é usado por muitas criancas amazônicas para recolher o líquido e misturar com açúcar. Dizem que esta resina sim é que tem o sabor de tutti-frutti mencionado no samba da Estácio de Sá.

estacio 

Pois é. O Sapoti, fruto do sapotizeiro, é originário da América Central (onde estávamos, subindo e descendo de pirâmides maias) que chegou ao norte do Brasil em meados do séc. XVIII levado por nativos (há também uma lenda sobre um lugar na Amazônia onde os maias teriam escondido seu tesouro antes da queda do império maia). Depois a árvore se espalhou pela região nordeste. Os nativos chamavam a fruta de "zapotl" (tomate naquelas bandas pré-colombianas era tomatl, chocolate era xocoatl e abacate era ahuacatl)  depois "zapóte" e finalmente sapoti.

Isso tudo é para dizer que recentemente compramos num supermercado perto de casa, numa feira de produtos brasileiros, alguns sapotis. Não comi no Brasil, como agora em Portugal. Só comigo que acontece isso?


Estes da foto e os outros que tínhamos comprados já foram devidamente degustados. O sabor não é de tutti-frutti, é bem doce quando maduro, derretendo a cada mordida de tão macio. Não é à toa que esta fruta seria a preferida de D. João VI, como dizem por aí.

A fruta tem uma casca marron (castanha) fina e seca que esconde este mel no interior. Por sapoti também é conhecida uma cantora brasileira, de voz lindíssima, chamada Ângela Maria. Ela recebeu este apelido (alcunha) do então presidente do Brasil Getúlio Vargas que dizia que ela tinha a cor morena do sapoti e a voz doce como a fruta.

E já que estamos próximos do Carnaval, vamos assistir o desfile do GRES Estácio de Sá de 1987 e cantar esta música num compasso que já não mais existe nas escolas de samba atuais, em decorrência do tempo incompatível com a enorme quantidade de integrantes para desfilar. Quem quiser assistir o vídeo do desfile de 2007, esteja à vontade.




Que ti ti ti é esse
Que vem da Sapucaí (bis)
Tá que tá danado
Tá cheirando a sapoti
Baila no céu a esperança
O cheiro doce e o perfume
Vêm no ar

Olê, olê, olê
Vem de terra mexicana
Mandei buscar pra você

Sacode pra colher
Do pé que eu quero ver (bis)
Até o dia amanhecer

D. João achou bom
Depois que o sapoti saboreou
Deu pra Dona Leopoldina
A Corte se empapuçou (e mandou)

E mandou rapidamente
Espalhar no continente
Até o Oriente conheceu

E hoje no quintal da vida sou criança
Me dá que o sapoti é meu

Isso virou tutti-frutti
Tutti-multinacional (que legal!)
Virou goma de mascar (bis)
Roda pra lá e pra cá
Na boca do pessoal

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