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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Bordados de Amor e de Loucura, Uma Linha Puxa Outra

Foto de prato com estampa alusiva aos Lenços de Namorados ou Lenços de Pedido, com elementos e frases tradicionais do artesanato do Minho, Portugal

Esta minha postagem é inspirada numa outra do blog da Luma Rosa, o post "Valeria A Pena Tudo", título de um poema de Omar Salomão. Este poema a Luma nos apresentou de forma inusitada, através de um lindo lençol desenhado com o texto em serigrafia, trabalho bem feito da loja À Colecionadora.

Quando vi aquela beleza de trabalho, logo lembrei de um trabalho em bordado tradicional da região do Minho, no norte de Portugal. São os lenços de namorados ou lenços de pedido. Imaginei um lençol ou fronhas com este artesanato.

A imagem da foto acima é de um prato que comprei e que irá fazer companhia a outros numa parede da nossa sala, ilustra bem esta arte feita num quadrado de tecido de algodão ou linho, com uma variedade grande de linhas coloridas que bordam pedidos ou intenções através das frases costuradas.


Foto de uma bordadeira do Minho executando um Lenço de Namorado
Fonte


Nestes lenços, as moças solteiras bordavam quadras singelas com erros ortográficos (a forma falada é ali escrita) cujo destino era um determinado rapaz, declarando assim o seu amor por ele.

No prato são encontradas elementos e frases que ilustram vários lenços de namorados, como por exemplo:

"Bai carta feliz boando
Nas asas dum passarinho
Cando bires o meu amor
Dale um abraço e um veijinho"

"Meu Manuel bai pro Brazil
Eu tamem bou no vapor
Gordado no coração
Daquele que é meu amor"

"Coração por coração
Amor não troques o meu
Olha que o meu coração
Sempre boi lial o teu"

"Aqui tens meu coração
E a chabe pró abrir
Num tenho mais que te dar
Nem tu mais
Que me pedir"


E, depois, olhando para o colorido e detalhes do prato, lembrei de uma exposição que visitei anos atrás no MASP (acho que era "Objetos do Inconsciente") onde haviam, além de documentos e o divã do Freud e de alguns brasileiros como a Drª Nise da Silveira, vários objetos criados por Arthur Bispo do Rosário. Em especial seu "Manto da Apresentação", que como outras peças, criou com sucatas e linhas de tecidos desfiados das roupas e uniformes descartados do hospital psiquiátrico, onde esteve internado com diagnóstico de esquizofrenia, por mais da metade de sua vida.

Foto do interno esquizofrênico Arthur Bispo do Rosário vestido com o seu Manto da Apresentação
Fonte
Para a confecção deste Manto, Bispo do Rosário dizia receber ordens celestiais para que assim o fizesse para servir de mortalha durante a sua passagem e apresentação no dia do Juízo Final. Neste post do blog Fora de Mim vocês poderão mais sobre ele e também encontrar mais obras deste refugiado em seu próprio mundo.

2 comentários:

  1. Cada vez que aqui venho, lembro das famílias portuguesas que conheci na minha infância. É recordar e ver aqui, as suas culturas. Os lençóis e fronhas bordados com frases. Alguns eram de Trás os Montes (é isso?) não me recordo muito bem.
    Quanto ao manto do Bispo, sempre me pergunto porque ele não foi entrado com ele. vi exposições e sua arte é bonita e instigante.
    bjo
    Zizi


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  2. Eu tenho um puxa-sacos com esses bordados das moças apaixonadas. Claro que hoje, isso é feito em escala para fins comerciais, mas não deixa de ser uma lembrança interessante.

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