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sábado, 2 de abril de 2011

Trotes e praxes

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O Trote estudantil, na forma que é conhecido no meio acadêmico no Brasil, segundo o Wikipedia “consiste em um conjunto de atividades para marcar o ingresso de estudantes no ensino superior, que podem ser leves (brincadeiras) ou graves (humilhações ou agressões).”

A palavra dada a esta iniciação aos novos alunos vem da forma de se educar cavalos a um certo caminhar (trotar), já que para um veterano o “bixo” ou “bixete” está entre ser um animal a ser domesticado e um ser humano. A tradição dessa prática foi importada das universidades europeias. “Nestas instituições, surgiu o hábito de separar veteranos e calouros, aos quais não era permitido assistirem as aulas no interior das respectivas salas, mas apenas em seus vestíbulos (de onde veio o termo ‘vestibulando’ para designar estes novatos). Por razões profiláticas, os calouros tinham as cabeças raspadas e suas roupas muitas vezes eram queimadas.”

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A Praxe acadêmica praticada em Portugal, surgiu na Universidade de Coimbra. Tinha como base “uma jurisdição especial (o ‘foro académico’, distinto da ‘lei civil’), a qual era aplicada por um corpo policial próprio - os Archeiros - sob tutela das autoridades universitárias. O seu papel era o de zelar pela ordem no campus e fazer cumprir as horas de estudo e recolher obrigatório por alunos e professores, sob pena de prisão, sobrepondo-se às autoridades policiais civis. Também tinha a incumbência de evitar a entrada na Universidade dos habitantes da cidade que não fossem estudantes ou professores. A praxe tem também um ritual iniciático fortemente hierarquizado. Esta ligação é forte de tal modo que por muitas vezes se confunde o conceito de praxe, que é o conjunto de todas as tradições e rituais com o de ‘gozo ao caloiro’. Actualmente, as actividades de recepção ao Caloiro tem sofrido forte contestação e gerado enorme polémica, chegando mesmo a haver o instauro de processos-crime.”

Toda esta explicação e tal, é apenas para preencher espaços entre as fotos que fiz há algum tempo atrás de um grupo de estudantes, veteranos e novatos, aqui perto de casa durante uma destas “praxes”. Os veteranos devem ter combinado com os calouros para que estes viessem vestidos com roupa de dormir e trouxessem seus travesseiros, pois eles estavam fofíssimos vestidos de pijamas de todo tipo! Passaram a tarde e início da noite ali passando por gincanas em grupos. Cada grupo saiu correndo para comprar garrafas de cerveja e copos de plástico. Depois os grupos, orientados por um chefe-veterano, fazia uma série de flexões ou agachamentos. Num dado momento era perguntado aos “bixos” se algum deles precisava ir embora mais cedo. Poucos foram os que necessitaram e foram dispensados. Depois de todas as atividades e gritaria, os que bebiam álcool dividiram as cervejas e beberam ali mesmo, antes de irem embora.

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Me fez lembrar que eu não passei por isso. Como eu era mais velha que a maioria dos alunos do ciclo anterior ao nosso (estes nos aplicariam o trote). Me viram e pensaram que eu era aluna do período noturno fazendo alguma aula no período da manhã. Me livrei! Mas a nossa turma toda foi pega num trote-aula. Um aluno da IX Turma (também chamada de “Pavilhão 9”) nos deu a primeira aula de Lógica totalmente sem sentido. Caímos direitinho…

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Como a faculdade onde me formei fica em frente à praia, lembro dos “bixos” aparecerem sujos de areia. É prática comum fazê-los  ficar à milanesa, além dos famosos pedágios com cabeça raspada e roupa manchada, que por Lisboa também já vi. Lembro também de um colega de turma aterrorizando os calouros durante uma aula inicial. Através do vidro da porta da sala de aula, este colega mostrava a eles uma enorme tesoura de podar. Ficaram apavorados pensando que teriam o cabelo cortado com aquilo. O que sei é que sempre acabava no “churras” patrocinado com o dinheiro arrecadado nos pedágios.

Infelizmente alguns trotes ou praxes são feitos com violência, culminando inclusive nos casos de morte que todos nós já vimos na mídia. Em algumas instituições de ensino estas práticas foram banidas, dando lugar ao trote solidário ou cidadão “assim denominadas as atividades assistencialistas, organizadas geralmente pelos centros acadêmicos, e que envolvem a coleta de alimentos não-perecíveis e roupas, doados posteriormente para creches, asilos e orfanatos, bem como campanhas de doação de sangue para hospitais e centros de saúde.”

E você, já foi “bixo” ou “bixete”? O que acha desta prática?

Um comentário:

  1. Oi Lu, nao sei o que é isso nao, mas achei uma graca a historio dos alunos de pijamas. Ta vendo como existem formas bem divertidas pra se comemorar uma conquista, Essas que acontecem no Brasil, pra falar a verdade eu acho um horror.
    Li seu post duas vezes de tanto que gostei.
    Bom fim de semana, amiga

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